Nós, que temos mais, exigimos pagar o Imposto Mortágua, já!


Gosto muito de pagar impostos. Sem ironias. Quando pago os meus impostos tenho a ideia de que estou a contribuir para uma grande cooperativa da qual todos beneficiamos. Colocando a ideia a uma escala ainda mais pequena: imagino que Portugal é mais ou menos como o condomínio do meu prédio, mas com mais condóminos. Dividimos as despesas e também nos quotizamos para conseguir fazer pinturas e obras. É o que é justo. 
Parto sempre do princípio de que ninguém se está a apropriar das minhas contribuições e de que elas serão usadas para o bem comum, e esse é o pressuposto correto. 
Pago muito mais impostos do que colegas de profissão com o mesmo rendimento, mas com filhos. É justo. Vivendo sozinha tenho menos despesas, logo mais rendimento. Se tem de haver um aumento de imposto e um escalonamento de sobretaxas, compreendo que eu seja mais penalizada. Tenho mais, pago mais. 
O último veículo automóvel que comprei custou-me cerca e 16 mil euros e é uma bela máquina. Paguei o imposto. Se tivesse comprado um automóvel de 160 mil euros, embora confesse não saber se se vendem carros por tal preço, teria muito gosto em pagar o devido imposto calculado com base nesse património. 
Vamos imaginar que acabou de me sair o Euromilhões e posso adquirir uma boa propriedade  para ter horta, jardim, animais, enfim o meu sonho. Não digo uma propriedade de luxo, digo só uma propriedade bem localizada, com uma casa bem construída, bom terreno com água, coisa no valor de meio milhão de euros. Caramba, meio milhão é muito guito! Meio milhão são mais de 5 casas iguais aquela onde vivo! Nesse caso parece-me que teria de pagar um imposto imobiliário de valor mais elevado. Muito mais elevado mesmo. É que quem tem mais pode contribuir mais, e temos de ser uns para os outros, porque foi o que a nossa avózinha e o Senhor Jesus nos ensinou. As pessoas da classe social à qual pertenço são muito solidárias. Sabem que há quem tenha muito menos e gostam de contribuir socialmente e de partilhar as graças concedidas. Não participamos em guerras nem sequer acreditamos que as pessoas devam viver melhor ou pior de acordo com um grupo social. Como poderíamos nós defender que o Zeca das pinturas deve viver com menos posses, porque é só o Zeca das pinturas, não tendo nascido numa família como deve de ser económica, cultural e socialmente, que por sua vez também já não teve a mesma sorte quanto à ascendência,  e por aí fora sempre retroativamente?! O Zeca das pinturas é uma pessoa e tem as mesmas necessidades que eu. Graças a Deus não vivemos na cultura de castas do hinduísmo, logo não temos os bramanes e os intocáveis nos topos da pirâmide. Somos católicos. Ou então somos cristãos. Ou ateus, vá. Mas o que não podemos permitir é que o nosso pensamento retroceda a hábitos recuados e anacrónicos. Estamos muito agradecidos pela vida confortável que temos vivido e queremos agradecer contribuindo mais.  Por isso, colocamos a fasquia mais alta do que Mariana do Bloco e exigimos pagar o Imposto Mortágua, já, a partir de um valor imobiliário superior a 400 mil euros. É que é muito guito!

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